O vídeo acima, com as considerações de Severino
Antônio e Kátia Tavares, proporciona uma reflexão sobre como a escola é um
instrumento de modelagem do aluno. O
modelo que se pretende chegar é de alguém passivo, obediente ao que lhe é
imposto, sem visão crítica, sem criatividade, refém do consumismo de produtos e
ideias tendenciosas. O currículo é o instrumento que proporciona esta prática
de modelar o aluno através reprodução pelo professor de práticas curriculares
engessadas. O professor também já foi moldado por estas práticas. E este
momento de reflexão é de vital importância para que possa quebrar a estrutura
que ainda nos mantém engessados a reproduzir a prática de modelagem de nossos
alunos por meio do prática curricular tradicional.
Este blog busca registrar as reflexões realizadas nas aulas da disciplina "Tendências Contemporâneas de Currículo" ministrada pela professora Rita Stano no curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências, na Universidade Federal de Itajubá.
quinta-feira, 6 de junho de 2013
FICHAMENTO DO CAPÍTULO: "Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução", de Antonio Flávio Barbosa Moreira e Tomaz Tadeu da Silva
Tipo: Livro
Assunto /
tema: Currículo
/ Teoria Crítica de Currículo
Referência
bibliográfica: MOREIRA, A. F. & SILVA, T. T. Currículo,
cultura e Sociedade (orgs.). 5a. Ed. São Paulo: Cortez, 2001.
Resumo /
conteúdo de interesse:
O
currículo passou a preocupar menos com o “como” o conhecimento deve ser
organizado e passou refletir sobre “por quê” tal conhecimento é organizado, assumindo
uma visão crítica de que o currículo não é neutro e está imerso em relações de
poder.
As
primeiras ações de estudar o currículo de forma crítica surgiram nos Estados
Unidos no século XIX, com a intenção de
racionalizar, sistematizar e controlar a escola e o currículo.
O
advento do capital industrial nos Estados Unidos ocasionou mudanças na
sociedade que passou a ser pautada pela cooperação e especialização. A escola
passou a assumir o papel de moldar os alunos (futuros a profissionais) a esta
nova realidade e o currículo tornou-se o instrumento de controle da sociedade,
para ordená-la, organizá-la e torná-la mais eficiente nesta nova realidade.
O
texto aborda que além da intencionalidade do currículo citada acima, surgiu
entre a década de 20 e início dos anos 70, duas novas tendências curriculares.
A primeira, proposta por Dewey e
Kilpatrick, que defendia um currículo voltado para valorização dos interesses
dos alunos e no Brasil, ficou conhecida como escolanovismo. A segunda foi proposta por Bobbit e
defendia a construção científica de um currículo voltado ao desenvolvimento dos
aspectos desejáveis da personalidade humana e ficou conhecido no Brasil por tecnicismo.
Posteriormente, após a derrota dos estados Unidos na
corrida espacial, as críticas as visões progressista da escola surgiram.
Passou-se a exigir retomada da qualidade da escola a partir de uma reforma
curricular pautada nos estudos de conteúdos estruturados em diferentes
disciplinas. Esta ênfase na estrutura organizacional estava associada a Jerome
Bruner. Nos anos 60, os estados unidos passou por uma crise em diversos
aspectos que gerou movimentos de crítica a escola inclusive questionando a
utilidade de sua existência. Tais movimentos foram suprimidos com a vitória de
Nixon, que retomou a ideia de busca de eficiência e produtividade através da
escola e o retomada a não criticidade do currículo e da sociedade. Mas a criticidade ao currículo manteve-se
viva graças a alguns autores, que apoiados em teorias europeias, mantinha sua
denuncia a um currículo como reprodutor de desigualdades sociais.
A partir de 1973, os especialistas que participaram
da conferencia da Universidade de Rochester, passaram a rejeitar a concepção
bahavorista e empirista de currículo, criticando seu caráter instrumental,
apolítico e ateórico. A partir de tal conferência, duas correntes surgiram: a
primeira, fundamentada nas teorias criticas e no neomarxismo e representada por
Apple e Giroux enquanto a segunda fundamentada na tradição humanista e
hermenêutica, representada por Pinar. Tais tendências apresentavam suas divergências.
Em razão destas tendências, os focos e as
preocupações sobre o currículo mudaram. Os neomarxistas, precursores da
Sociologia do currículo, passaram a introduzir a analise das relações entre
currículo e sociedade, cultura, poder, ideologia e controle social, o questionamento
sobre “a favor de quem” o currículo trabalha.
Na Inglaterra, emergiu a Nova Sociologia da Educação
(NSE) baseada no estudo do currículo escolar, evidenciando as discussões sobre
a desigualdade na educação e propondo estudos sobre a política educacional.
Na teoria crítica, alguns temas centrais são
abordados, como a relação entre currículo e ideologia, currículo e cultura,
currículo e poder. Em relação à ideologia, o autor cita os estudos de Althusser,
que concebe a educação como o principal dispositivo de transmissão de ideias de
dominação e de reprodução das estruturas de classes existentes. Quanto à
cultura, a teoria crítica entende que a cultura é um campo de luta de
manutenção ou separação das divisões sociais sendo o currículo o terreno em que
a cultura é produzida. Já sobre a relação entre currículo e poder, de acordo
com as teorias críticas, o poder se manifesta nas linhas divisórias entre que
separam os grupos sociais e o currículo é o resultado destas relações de poder
assim como o responsável por tais relações. A identificação destas relações de
poder é de grande importância na análise crítica do currículo.
Outras questões são abordadas também no texto. Dentre
elas, fala-se da existência do currículo oculto, que são aspectos da
experiência educacional não explicitado no currículo oficial formal. Outra
questão é necessidade de desnaturalizar e historicizar o currículo existente
para que o mesmo possa ser desconstruído a partir de formas alternativas. O
texto questiona também a necessidade de romper com a estrutura curricular
baseada em disciplinas e relata que chamada interdisciplinaridade não contribui
para desmontar esta estrutura.
E finalizando, o autor questiona a inércia do currículo
escolar em acompanhar as mudanças culturais advindas da incorporação das
tecnologias nas vidas das crianças assim como no processo de produção e
transmissão da informação. Tal passividade transfere a mídia o poder de
gerenciar a cultura, produzir ideologias para atender as necessidades do
mercado.
Citações:
1) "A ideologia, nessa
perspectiva, está relacionada às divisões que organizam a sociedade e às
relações de poder que sustentam essas divisões." (pag. 23)
2) Na concepção crítica, não
existe uma cultura da sociedade unitária, homogênica e universalmente aceita e
praticada e, por isso, digna de ser transmitida às futuras gerações através do
currículo." (pag. 27)
3) O currículo está, assim, no
centro de relações de poder. Seus aspecto contestado não é demonstração de que
o poder não existe mas apenas de que o poder não se realiza exatamente conforme
suas intenções." (pag. 29)
Considerações do pesquisador
(aluno):
O texto abordou
diversos aspectos sobre as Teorias críticas do currículo, como por exemplo a origem,
as diversas correntes de pensamento que surgiram, a influência das mudanças na
sociedade, as ações políticas e as transformações curriculares, a relação existente
entre currículo e ideologia, cultura e
poder, abordando ao final, outras questões como o currículo oculto e o
descompasso entre o currículo e as transformações advindas do desenvolvimento tecnológico.
Foi um texto denso de informações úteis para refletirmos sobre as tendências
criticas de currículo a fim de agregarmos esta visão critica na nossa prática
docente ou pelo menos vermos o currículo com um olhar mais criterioso e
crítico.
Indicação da obra:
Professores
e pesquisadores na área da educação, em especial sobre teorias críticas do
currículo.
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